Figurinistas. A competição acirrada entre as quadrilhas abriu espaço para que profissionais cada vez mais capacitados possam assumir a responsabilidade pelas roupas e acessórios que os brincantes vão usar.
Por Angelo Tomasini.
O quesito figurino é praticamente o último na ordem da planilha de julgamentos da Federação das Quadrilhas Juninas do Ceará (Fequajuce), na categoria quadrilha. Em importância é um dos primeiros, segundo a opinião dos quadrilheiros. Afinal, quando a quadrilha entra na quadra é ele que se vê, a princípio.
Nas quadrilhas de rua, nos anos 1970, o objetivo era ser engraçado. Quanto mais caipira, mais cafona, melhor. Nas décadas seguintes, o exagero e a beleza era o que importava. Quem não lembra das mangas “bufantes” preenchidas com jornais para dar o volume, tão apreciado nos anos 1980 e 1990?
Com a inserção do tema nas quadrilhas nos anos 1990, o figurino começou a tomar maior importância por também ajudar a contar a história. Para Irê Rocha, um dos figurinistas pioneiros no Ceará, “Bom gosto e concordância com o tema” são dois itens que não podem faltar em um figurino.
Em 1997, quando ele iniciou no “Arraiá do Babaçu” (hoje Junina Babaçu), as grandes costureiras da comunidade ainda dominavam a cena, produzindo os figurinos. Até então, o costume era cada dama ter um vestido personalizado.
Aos poucos designers e estudantes de moda foram sendo mais requisitados e passaram a estabelecer suas marcas no São João.
Para o designer Ronny Pinheiro, a valorização veio com o tempo e com a profissionalização. “O trabalho que desenvolvo com minhas quadrilhas não é só pegar uma folha de papel e desenhar vestidos, é mais como uma consultoria”, afirma ele que acompanha a pilotagem, dá dicas, monta e desmonta, faz cartelas de cores e ainda vai às compras em busca do melhor material.
Dedicado aos figurinos juninos desde 1999, criou o primeiro para a quadrilha em que dançava, Marca Passo, de Fortaleza. Hoje é um dos mais requisitados e tem obras como o figurino de 2011 da Rainha da Paixão Nordestina, Roberta Fernandes, tido como um dos mais belos de todos os tempos.
Polêmica
Atualmente o figurino das quadrilhas tem se tornado também questão de debate no meio. A onda da utilização de pedrarias em grande quantidade acabou encarecendo o resultado final e diferenciando alguns grupos pelo poder aquisitivo. Outra questão ligada a isso é o que diz respeito ao fato de ser ou não “junino”, original.
Para Irê, isso depende do ponto de vista de cada um. “Não é porque um determinado grupo escolhe bordados em pedrarias que deixa de ter características juninas. Como tudo no mundo tem uma evolução e releitura, no meio junino é assim também. O importante é que tenha embasamento e concordância e não se deixe poluir o visual, exagerando nos excessos de brilho ou muita informação”, justifica.
Já Ronny, acredita que é possível fazer um belo figurino sem gastar milhões em pedrarias. Segundo ele, basta fazer um bom estudo de materiais e técnicas diferentes para se obter um visual agradável. “Vale salientar que o figurino tem que estar de acordo com o tema da quadrilha, tem que contar a história junto com o restante do trabalho. Então, um bom efeito e adequação ao tema valem mais que uma peça de strass”, revela.
Estreante como designer junino em 2013, Tailan Calu, de Palmácia, foi uma revelação da temporada, elogiado pelo figurino da quadrilha em que participa, Luar Serrano.
Para ele, que pretende continuar no ofício em paralelo, um bom figurinista deve lembrar sempre da originalidade junina, mas também acompanhar a moda e ficar de olho nas tendências. Sobre o figurino criado este ano, afirma que a proposta foi trazer algo simples, que mostrasse características do São João, com poucas informações visuais, para identificar facilmente o tema.
Tailan chegou a vencer o Troféu Flor de Mandacaru no ano passado, na categoria melhor Figurino do Interior.
Método
O trabalho do figurinista é acompanhado de perto também por quem contrata. Ronny afirma que tudo tem início a partir de uma reunião com a diretoria da quadrilha, onde busca todas as informações sobre o tema proposto, ideias que eles tenham e informações que possam ser passadas.
“Inicio minha pesquisa temática buscando referências visuais, cartelas de cores, texturas, sem contar a pesquisa de tendências de moda nacional e internacional que faço constantemente, devido a minha profissão. Sempre procuro colocar algo que seja tendência na moda, nos meus figurinos”, afirma.
Todo esse trabalho acabou tornando o Ceará uma referência no que diz respeito a figurinos juninos. De acordo com Irê, “Somos conhecidos lá fora como quadrilhas ricas, que tem um figurino muito bem elaborado, por isso o investimento cada vez mais alto”.
Apesar do glamour da profissão, ele aponta que nem sempre o figurinista é valorizado. Os dirigentes das quadrilhas muitas vezes acham que outros serviços tem mais importância.
FONTE: PORTAL ISPIA
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